A descoberta da moda como ferramenta para comunicar histórias de vida

O alagoano Antônio Castro ganhou consciência profissional pela sua formação pessoal, educacional e valorização da sua cultura regional.

25 fev 2025 | Atualizado 26 mar 2025

Foto: divulgação

Na retrospectiva de 1994 da Folha de S. Paulo, a colunista Erika Palomino conclamou o ano como o de transformação para a moda e comportamento no Brasil.

Considerou como o ano zero dos desfiles e afins. Modelos, estilistas e maquiadores tinham virado estrelas etc., aclamava a jornalista.

Quatro dias depois de publicada a coluna, em 28 de dezembro, nascia em Maceió, no Estado de Alagoas, Antônio César de Moura Castro Neto, Antônio Castro, nome que o diretor criativo e estilista da marca autoral FOZ adotou quando começou a atuar no mundo da moda.

A representatividade do estilista nesse universo está conectada à sua origem, à formação, à afetividade do feito à mão e ao resgate à cultura do artesanato tradicional brasileiro.

É daí que Antônio bebe para desenvolver muito das suas coleções. A próxima, inclusive, Povoado Poesia, que desfila em outubro de 2025, no São Paulo Fashion Week.

Mas antes de visitar o seu trabalho, o convite é para acompanhar a história, que ele mesmo nos conta aqui, sobre a sua vida pessoal e profissional até definir a identidade do seu trabalho, a Moda no Artesanato.
 

 

Sou descendente de famílias que vêm de realidades completamente diferentes. A do meu pai, Rogério César, é mais tradicional, ele era filho de desembargador, e a da minha mãe, Esmeralda, é de origem bem humilde, meu avô era sitiante do sertão de Alagoas.   

A minha família tinha todos os privilégios de classe média brasileira e uma boa condição de vida, mas aos poucos fui vendo a nossa situação financeira se transformando.

Eu começo cedo querendo ter contato com coisas voltadas à criação, como tocar violão, desenhar etc. A moda surge aí, por volta dos meus 13, 14 anos.  
 


Aos 15 anos, depois de ler "Cartas a um jovem estilista", de Alexandre Herchcovitch, tive a certeza de que queria ser estilista. Na verdade, sempre soube que esse era o meu caminho.  

E segui o meu Ensino Médio flertando com a produção de moda. Minha mãe tinha uma máquina de costura antiga que coloquei no meu quarto para treinar. Fiz o meu primeiro vestido, mas sem pensar em nada comercial. 

Paralelo à escola, tentava me infiltrar em eventos de moda, conhecer pessoas, mostrar meu portfólio, que estava construindo de forma totalmente amadora. Mas para mim tinha uma validade muito grande. 
 

 

Ao terminar a escola, criei a minha primeira coleção, inspirada na história da minha mãe e da minha tia, que saíram da casa dos pais, do sertão de Alagoas, e foram morar num pensionato, na cidade grande, em Maceió. Eu queria falar sobre o êxodo rural, da coragem delas. Eu tinha 16 anos.  

Com amigos, filmamos na cidade onde minha mãe morou, em Canapi, no Lope, o nome do sítio do meu avô. Mostramos a trajetória delas, dentro de casa, vivendo a casa, saindo, pegando o carro e indo para Maceió.  

Fizemos um curta metragem e um material fotográfico todo. Ganhamos o Prêmio Sururu, de melhor Direção de Arte, com o curta.

Foi publicada uma matéria no jornal da cidade, e a coleção ganhou alguma notoriedade. A partir daí, meu pai começou a entender que a moda era uma possibilidade profissional e não uma fantasia.

Deu certo, vim para São Paulo, com muito foco, muita coragem, vontade e uma bolsa do FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), para fazer o curso de Design de Moda com Habilitação em Estilismo no Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro (CAS).  

 

 

Por sugestão da professora da disciplina de laboratório têxtil, visitei a exposição A Casa Bordada, no Museu A Casa do Objeto Brasileiro, em São Paulo. Na entrada, li a frase do escritor Liev Tolstói na parede: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia."  

Tive um estalo porque é sobre olhar para o que vem de mais perto de você e usar aquilo como ferramenta para se comunicar com a audiência mais ampla.  

E essa exposição era uma casa montada dentro do museu, onde todas as paredes eram feitas de tecido, e cada parede tinha uma técnica de bordado, um trabalho manual feito por grupos de artesãos tradicionais do interior do Brasil. 

 

 

Terminei a faculdade em 2018, tive uma vivência no mercado na área da decoração e arquitetura, sempre ligado ao artesanato, voltei para a área de moda e criei a minha marca em 2020: FOZ

 

 

Meu contato inicial com o São Paulo Fashion Week foi durante um estágio, depois participei profissionalmente apresentando as minhas coleções.

A primeira, aos 28 anos, desfilei com Alambique Fantasia, sobre a história do meu pai. E aos 29, com Conto de Laura, uma passagem familiar.

 

Coleção "Conto de Laura", uma passagem familiar nas passarelas do São Paulo Fashion Week 2024. Foto: divulgação

 

 

Minha trajetória 

Sempre que pedem para eu avaliar a minha trajetória, eu digo que estou aliviado de saber que tudo o que eu tinha para fazer, e tudo o que eu podia fazer, eu fiz. É assim que também saio de cada desfile.  
 
Mas eu acho que a mesma determinação e sede que eu tinha quando eu cheguei, eu sigo tendo, porque eu acho que ainda não está tudo ganho. Eu acho que eu tenho o privilégio de, agora aos 30, poder dizer que eu vivo do meu trabalho, e do trabalho que eu escolhi, que eu amo fazer o que eu faço.  

Sonho realizado 

Então, eu acho que agora que eu já realizei o meu sonho, o que me resta é vivê-lo. A minha intenção agora é seguir fazendo o que eu já faço.  

 


Foz

Onde o rio encontra o mar.

É o meu encontro com o artesanato, com os artesãos. Meu produto existe do meu arsenal intelectual e fabril e da cabeça e das mãos os artesãos. É coletivo.     
 


Público

A roupa é feita para todos os gêneros.  

70% mulheres e 30% homens.  
Faixa etária de compra: 45 +.  

É para quem entende que a moda é um veículo de comunicação.  

Querem comunicar que acreditam no Brasil. São entusiastas da cultura e do artesanato brasileiros, da produção do feito à mão e dos artesãos brasileiros.  

São artistas, professores acadêmicos, antropólogos, cozinheiros, chefes de cozinha... 


Instagram:
@foz_____/


 

Conheça os cursos da área de Moda e seja protagonista de uma nova história inspiradora

 

Conheça outras histórias

Ir ao topo

BARRA DE PROGRESSO - FINAL DO CONTEÚDO